Nas últimas semanas, discutimos a complexidade dos transtornos depressivos, condições com múltiplas formas de apresentação e níveis de gravidade, que frequentemente são contempladas erroneamente sobre o prisma reducionista da tristeza. Uma das desordens pouco conhecidas que integra o espectro da depressão é o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma forma grave de síndrome pré-menstrual (SPM).
Embora os sintomas pré-menstruais sejam reconhecidos há bastante tempo, os critérios diagnósticos para reconhecimento do transtorno (apresentação grave da condição) foram especificados apenas recentemente. Nos Estados Unidos, aproximadamente 70% a 90% das mulheres em idade reprodutiva reclamam de pelo menos algum desconforto pré-menstrual, em geral a apresentação é leve e os sintomas não interferem em sua vida pessoal, social ou profissional; no entanto, 5% a 8% apresenta sintomas moderados a graves que podem causar sofrimento significativo e prejuízo funcional. Em casos severos, há relatos de sintomas psicóticos (delírios e alucinações) e de comportamento suicida.
As principais características do TDPM são as oscilações de humor, ansiedade, irritabilidade e disforia, porém, sintomas comportamentais e físicos também são frequentes. Estes sintomas são evidenciados em intensidade grave, com características similares ao transtorno depressivo maior e ao transtorno de ansiedade generalizada. A apresentação dos sintomas ocorre em um padrão cíclico nos dias que antecedem a menstruação, atingindo o auge perto do início da menstruação e diminuindo após o período menstrual.
Sintomas do transtorno disfórico pré-menstrual
Para o diagnóstico de TDPM, a mulher precisa apresentar pelo menos cinco critérios simultâneos, os principais sintomas são:
Alterações no humor
Alterações no comportamento
Alterações somáticas
Estes sintomas devem ser graves o suficiente para interferir significativamente no funcionamento social, ocupacional, sexual ou escolar, e não pode se tratar apenas da exacerbação de outro transtorno prévio (embora possa ser concomitante com outras condições psiquiátricas). A diferença para outros transtornos com características semelhantes é que os sintomas acompanham o seu ciclo menstrual, portanto, eles começam a melhorar quando a menstruação ocorre e geralmente desaparecem quando a menstruação termina.
Fatores de risco
Diagnóstico diferencial
O TDPM possui semelhanças com outros transtornos ou doenças, por isso, estas condições precisam ser observadas, as principais são:
O TDPM não seria uma forma de medicalizar emoções normais antes da menstruação?
Não. Apesar de haver discussões defendendo a ideia de que esta condição pode potencializar o estigma sobre as mulheres, é importante ressaltar que como citamos anteriormente, até 90% das mulheres têm sintomas leves de SPM, uma parcela relativamente pequena irá desenvolver TDPM, condição que extrapola a barreira da normalidade. Logo, como se trata de um transtorno, o diagnóstico e a implementação de medidas terapêuticas precoces pode melhorar muito a qualidade de vida.
Tratamento
Tendo em vista que, geralmente, se trata de uma condição crônica e recorrente, o tratamento precisa pesar custo/benefício e efeitos adversos. Além disso, por não ser uma doença, mas uma condição, não há um protocolo específico, porém, há perspectivas de tratamento que podem reduzir a intensidade dos sintomas e melhorar muito a qualidade de vida.
Mudança no estilo de vida
Medidas farmacológicas
Lembre-se que a CAA/RS oferece atendimento psicológico presencial com condições especiais para a advocacia (você pode encontrar um conveniado clicando AQUI), ou on-line (clicando AQUI).
Felipe Ornell, Psicólogo
Isabela Serafin Couto, Médica
Referências
APA. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders (DSM-5). Washington: American Psychiatric Association.
Andrade C. (2016). Premenstrual dysphoric disorder: General overview, treatment strategies, and focus on sertraline for symptom-onset dosing. Indian journal of psychiatry, 58(3), 329–331. https://doi.org/10.4103/0019-5545.192014
Hantsoo, L., & Epperson, C. N. (2015). Premenstrual Dysphoric Disorder: Epidemiology and Treatment. Current psychiatry reports, 17(11), 87. https://doi.org/10.1007/s11920-015-0628-3
Mishra S, Elliott H, Marwaha R. Premenstrual Dysphoric Disorder. [Updated 2020 Sep 5]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK532307/
Reid RL. Premenstrual Dysphoric Disorder (Formerly Premenstrual Syndrome) [Updated 2017 Jan 23]. In: Feingold KR, Anawalt B, Boyce A, et al., editors. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc.; 2000-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279045/
Psicólogo clínico, possui Residência em Saúde Mental (ESPRS) e especialização em Dependência Química; Mestre e Doutorando em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS). Pesquisador no Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas - Hospital de Clínicas de Porto Alegre / Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Editor da Revista Brasileira de Psicoterapia. Professor titular do curso de Psicologia da Faculdade IBGEN, Grupo Uniftec e responsável técnico pelo Previne Saúde Mental.
E-mail: felipeornell@gmail.com
Site: http://lattes.cnpq.br/5402861891632171