Possivelmente você já ouviu falar de alguém que procurou um serviço de emergência médica ou um cardiologista durante uma crise e descobriu que não havia nenhuma alteração física. Os sintomas parecem similares aos de um infarto: tontura, vertigem, sudorese, falta de ar, taquicardia, medo de perder o controle e sensação de morte. O problema, no entanto, não é cardíaco, mas um transtorno mental que vem chamando a atenção nos últimos anos: o Transtorno do Pânico.
O que é a Síndrome do pânico
A característica central do Transtorno do Pânico são as crises de ansiedade intensa, que ocorrem de forma abrupta e recorrente. Estas crises podem ser inesperadas (surgem sem motivo aparente) ou desencadeadas por situações específicas. O medo acentuado desencadeia reações físicas graves quando não há perigo real ou causa aparente (falamos sobre medo e ansiedade AQUI). Durante as crises quatro ou mais dos seguintes sintomas ocorrem simultaneamente:
Os sintomas alcançam a intensidade máxima em pouco tempo e duram cerca de 10 ou 20 minutos e vão se dissipando, podendo ocorrer novamente.
Qual a periodicidade das crises?
A periodicidade e a gravidade das crises são variáveis, em alguns casos são frequentes (diárias por exemplo) e em outros mais espaçadas, separadas por semanas ou até meses, em geral com períodos de remissão que podem ser longos.
Quais as consequências da Síndrome do Pânico?
Experimentar o transtorno do pânico pode significar que você sente medo constante de ter outro ataque de pânico, a tal ponto que esse próprio medo pode desencadear seus ataques de pânico. Após as crises, ocorre a apreensão ou preocupação persistente acerca da ocorrência de ataques de pânico futuros e das suas consequências (por exemplo perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). Isso pode gerar mudanças significativas no comportamento, levando a evitação de situações cotidianas (trabalho, consultas médicas, dirigir, transporte público...) por medo das crises.
Também não é raro que o pânico ocorra simultaneamente com a agorafobia (medo intenso de estar sozinho em locais públicos). Em casos graves, as pessoas podem não sair mais de casa. Dificilmente o transtorno de pânico ocorre em pacientes sem outros transtornos mentais concomitantes (eventualmente não diagnosticados), sendo os mais frequentes os transtornos depressivos, bipolares, de ansiedade e relacionados a substâncias psicoativas, o que dificulta o diagnóstico e agrava o prognóstico. Ainda, é importante destacar que após as crises os sintomas de outras condições podem ser intensificados gerando sofrimento intenso, o que afeta diversas áreas da vida e aumenta o risco de afastamento laboral, social e suicídio.
Se trata de um transtorno comum?
O transtorno do pânico é um dos transtornos de ansiedade mais comuns, algumas pessoas chegam a caracterizá-lo como uma “epidemia silenciosa”. Estima-se que entre dois a 5% da população irá apresentar esta condição em algum momento da vida, mas há estudos mostrando que esta estimativa é muito maior. Geralmente os sintomas iniciam no início da idade adulta (por volta dos 20 aos 24 anos, mas o primeiro episódio também pode ocorrer em outras idades). Independente do momento em que ocorre, quando não é tratado, tende a ser crônico.
Como as pessoas descobrem que sofrem deste transtorno?
Tendo em vista a similaridade dos sintomas — o pânico com problemas cardíacos — é muito comum que as pessoas busquem serviços de emergência médica durante as crises. Diante da inexistência de alterações orgânicas, parte-se para a investigação psiquiátrica. Como não há exames específicos para identificar o pânico, é necessário que uma avaliação global e minuciosa seja realizada. O diagnóstico correto frequentemente envolve psicólogos, psiquiatras, médicos clínicos e cardiologistas, pois precisa descartar outras questões médicas.
Quais os fatores de risco?
Como é o tratamento?
Inicialmente, é importante ressaltar que é muito importante buscar auxílio especializado precocemente. Como as crises podem ocorrer em intervalos longos, é frequente que as pessoas procurem ajuda tardiamente, quando o transtorno já afetou a vida pessoal, profissional e a funcionalidade. A Terapia Cognitivo Comportamental, o Mindfulness, as técnicas de relaxamento e de respiração têm demonstrado boas evidências terapêuticas. Antidepressivos e benzodiazepínicos são os pilares do tratamento farmacológico. Estas estratégias podem ajudar a controlar as crises, reduzir a frequência e a intensidade, melhorando a qualidade de vida e beneficiam cerca de 80% dos pacientes. (1-4)
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Felipe Ornell, psicólogo
Patrícia de Saibro, psiquiatra
Referências
1. Curt C, Saad N, Raman M. Panic Disorder (Attack). 2020.
2. Kim YK. Panic Disorder: Current Research and Management Approaches. Psychiatry Investig. 2019;16(1):1-3.
3. APA APA-. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)2014.
4. Keyl PM, Eaton WW. Risk factors for the onset of panic disorder and other panic attacks in a prospective, population-based study. American journal of epidemiology. 1990;131(2).
Psicólogo clínico, possui Residência em Saúde Mental (ESPRS) e especialização em Dependência Química; Mestre e Doutorando em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS). Pesquisador no Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas - Hospital de Clínicas de Porto Alegre / Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Editor da Revista Brasileira de Psicoterapia. Professor titular do curso de Psicologia da Faculdade IBGEN, Grupo Uniftec e responsável técnico pelo Previne Saúde Mental.
E-mail: felipeornell@gmail.com
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