O que a droga te proporciona que você não consegue alcançar sem ela? Alívio do tédio ou da tristeza? Redução da ansiedade? Descontração? Prazer? Disposição para estudar?
O uso de substâncias psicoativas pode ter muitos porquês1,2.
Percebam que todos os nossos comportamentos têm uma motivação. Nós comemos quando estamos com fome, dormimos por que estamos com sono e vestimos um agasalho quando sentimos frio, certo? Talvez. Quando se trata de comportamento, nem tudo é tão óbvio. Todos os nossos comportamentos, em último grau, são respostas a pensamentos ou a sentimentos, sejam eles bons ou ruins, conscientes ou não. A lógica é mais ou menos assim: quando emitimos um comportamento que gera uma sensação agradável, a tendência é repeti-lo. Porém, se a consequência é desagradável, ele passa a ser evitado. Este movimento, muitas vezes automático e imperceptível, é controlado por mecanismos cerebrais bastante primitivos, e visa potencializar o prazer e evitar o desprazer. E isso parece bastante óbvio. Diariamente realizamos diversos cálculos mentais estimando a possibilidade de prazer imediato x prazer futuro. Por exemplo, se eu passar pelo redutor a mais de 60 km/h posso levar uma multa, se eu não usar camisinha posso contrair uma IST, se eu não me preparar para a audiência posso ter um resultado ruim.
Mas por que as pessoas usam drogas, se elas sabem que tem um prejuízo potencial significativo?
Há algumas décadas, a hipótese da automedicação vem ponderando que as pessoas com transtornos por uso de substâncias não se tornam dependentes de uma determinada substância aleatoriamente. Apesar da experimentação ser geralmente despretensiosa, é o efeito farmacológico, relaxante ou estimulante, que permite aliviar o sofrimento, gerando a continuidade do consumo. É a partir da experiência de alívio dos estados emocionais dolorosos, proporcionados pelos efeitos específicos de cada classe de drogas, que a dependência se constrói 3,4. Tristeza, ansiedade, raiva, medo, são emoções muito poderosas, e eventualmente subestimadas. Diante delas, diferentes tipos de substâncias psicoativas podem ser usados por várias razões quando alguém se automedica. Exemplos incluem 5:
O problema é que, com o uso crônico, as alterações cerebrais, o desenvolvimento da tolerância, dos sintomas de abstinência e da fissura tornam este alívio temporário cada vez menor6. Além disso, este processo gera a intensificação dos sintomas que antes eram aliviados7.
Sendo assim, um dos primeiros elementos do processo terapêutico é identificar o que a droga está atenuando. O questionamento realizado no início deste texto convida à exploração e compreensão dos sentimentos críticos e questões relacionadas que predispõem e mantém o uso de drogas. Mais do que isso, esta perspectiva parte do pressuposto que não adianta tratar o uso de drogas sem compreender e resolver todos os elementos psíquicos que geram a necessidade de uso. Assim, terminamos esta reflexão com a mesma pergunta do início: o que a droga faz por você?. Se você ainda não sabe responder, temos uma série de profissionais capacitados para te ajudar a compreender a sua relação com a droga e buscar formas mais efetivas de lidar com o universo psicológico. CLIQUE AQUI e conheça nossa plataforma de atendimento psicológico on-line, que conta com profissionais especialistas nas mais diversas áreas da Psicologia, e que podem te atendem a qualquer dia da semana, 24 horas por dia.
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Por: Felipe Ornell – Psicólogo, Especialista em Dependência Química, Mestre em Psiquiatria com ênfase em Dependência Química.
Juliana Nichterwitz Scherer – Biomédica, Doutora em Psiquiatria com ênfase em Dependência Química
Referências
1 Köpetz, C. E., Lejuez, C. W., Wiers, R. W. & Kruglanski, A. W. Motivation and Self-Regulation in Addiction: A Call for Convergence. Perspect Psychol Sci 8, 3-24, doi:10.1177/1745691612457575 (2013).
2 Meyer, P. J., King, C. P. & Ferrario, C. R. Motivational Processes Underlying Substance Abuse Disorder. Curr Top Behav Neurosci 27, 473-506, doi:10.1007/7854_2015_391 (2016).
3 Khantzian, E. J. The self-medication hypothesis of substance use disorders: a reconsideration and recent applications. Harv Rev Psychiatry 4, 231-244, doi:10.3109/10673229709030550 (1997).
4 Khantzian, E. J. The Theory of Self-Medication and Addiction. (2020).
5 American Addiction Centers (AAC). Are You Self-Medicating & Masking Symptoms of Mental Illness? (2020).
6 APA. (2013).
7 Ziedonis, D. & Brady, K. Dual diagnosis in primary care. Detecting and treating both the addiction and mental illness. Med Clin North Am 81, 1017-1036 (1997).
Psicólogo clínico, possui Residência em Saúde Mental (ESPRS) e especialização em Dependência Química; Mestre e Doutorando em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS). Pesquisador no Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas - Hospital de Clínicas de Porto Alegre / Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Editor da Revista Brasileira de Psicoterapia. Professor titular do curso de Psicologia da Faculdade IBGEN, Grupo Uniftec e responsável técnico pelo Previne Saúde Mental.
E-mail: felipeornell@gmail.com
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